A fase traumática que Ney Matogrosso viveu por causa da Aids

a-fase-traumatica-que-ney-matogrosso-viveu-por-causa-da-aids

O filme Homem com H se tornou um sucesso após entrar na Netflix. O filme cinebiográfico que narra a vida e a carreira de Ney Matogrosso aborda muitas questões da vida pessoal e musical do cantor, mas deixou lacunas sobre diversos momentos.

Apesar disso, a trama aborda com ternura e fidelidade a fase turbulenta vivida por Ney Matogrosso quando estava com medo de ser diagnosticado com HIV e o trauma que ele viveu ao ver tantos conhecidos padecendo após contraírem a doença.

1 de 6

Ney Matogrosso com Esmir Filho no set

@esmirfilho/Instagram/Reprodução

2 de 6

Jesuíta Barbosa caracterizado com figurino usado para a performance de Bandido Corazón

@esmirfilho/Instagram/Reprodução

3 de 6

Jesuíta Barbosa, Jullio Reis e Esmir Filho no Open Air

Luis Nova/Especial Metrópoles

4 de 6

Ney Matogrosso na juventude

Reprodução

5 de 6

Ney Matogrosso e Cazuza

6 de 6

Marco de Maria e Ney Matogrosso

Reprodução/Instagram

O contato de Ney Matogrosso com a Aids

O medo de contrair o vírus do HIV era constante no fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Ney viveu intensamente enquanto era obrigado a assistir vários amigos e amores parecerem da doença. Os momentos foram retratados com certa fidelidade em Homem com H, entretanto a biografia de Ney Matogrosso foi além para mostrar a tensão do artista em um momento tão preocupante da vida dele e de pessoas que ele amava.

O contato mais direto foi com Marco Maria, o médico com quem Ney viveu um dos romances mais longos da vida dele. Quando Marco voltou de viagem, Ney logo viu sinais de que ele tinha sido contaminado, baseado na vivência que teve com Cazuza enquanto ele enfrentava a doença.

“Os cabelos rareavam, ficavam lisos e os pelos do rosto mudavam de cor; da barba loira de Marco despontavam fios pretos e grossos”, diz um trecho do livro Ney Matogrosso: A Biografia, publicada pela Companhia das Letras em 2021.

Ney e Marco, mesmo com muitas certezas do diagnóstico, decidiram por fazer o teste de HIV. Marco tinha certeza que o contágio teria sido de encontro com um jovem norte-americano com quem transara uma ou duas vezes.

O diagnóstico de Marco era, infelizmente, positivo e, mesmo temendo o próprio contágio, Ney decidiu não fazer o teste para cuidar integralmente do amado. Os dois fizeram ainda juras de amor. “Marco se apavorou com a ideia do abandono e perguntou a Ney: ‘Você jura que vai ficar comigo?’. E Ney respondeu: ‘Eu vou ficar com você até o fim’”, revela outro trecho da biografia.

Ney Matogrosso viveu tensão e medo do diagnóstico

Nos dias que passaram, Ney passou a cuidar de Marco, contando com a ajuda da família do médico. Aos poucos, contudo, ele foi cercado por pessoas que também estavam infectadas. Ele então decidiu parar de adiar a realização de um teste de HIV e lidar com o destino que tinha certeza de ter também.

Entretanto, foi pego de surpresa ao abrir o envelope do resultado e ver “negativo”. Ao voltar para casa, contou friamente para Mauro e não esboçou sentimento especial ou alegria. “Não haveria alívio nem comemoração enquanto as pessoas que amava estivessem tombando a seu lado. Uma devastação que estava só no começo”, diz outro trecho da biografia.

Em sequência, mais pessoas do convívio de Ney confirmariam o diagnóstico de HIV: o compositor Raphael Rabello e o estilista Markito. Pouco depois, chega a notícia de que Carlos Augusto Strazzer e Cláudio Gaya também tinham contraído a doença. O secretário de Ney, Luisinho, e o confidente dele, Vicente Pereira, também.

Aos poucos, todos foram perdendo a vida, um a um, e o cantor precisou receber as notícias e lidar com o luto constantemente. “Ney foi ao cemitério por três vezes em apenas uma semana para enterrar amigos e amigos de amigos consumidos pela AIDS.”

Após tantas perdas, Ney Matogrosso não sentiu, pela primeira vez, vontade de sair da cama. Ele sabia que podia estar com depressão e passou a nem dizer o nome da doença, para não “abrir espaço a mais um mal na vida”. Então, ele seguiu em frente. Mesmo tendo que enterrar ainda mais pessoas, ele sabia que tinha outros amigos para cuidar, contas para pagar e shows que deveriam tirá-lo da cama.